A previsibilidade é um elemento, factor
presente no futebol, mas é a imprevisibilidade que o torna especial! E quando
esta surge no seu expoente máximo, as emoções de quem acompanha o jogo também
atingem esse patamar.
Na dimensão previsível, racional, o técnico do F.C.
Porto, afirmou saber como o Benfica ia jogar, procurando interferir na dimensão
emocional do adversário. Mas esta afirmação pode também ser vista como um
elogio, reconhecendo a existência de identidade no adversário, manifestada por
um padrão de jogo, conferida pela qualidade do treino. O que, diga-se, foi
reconhecido no fim do jogo. Por outro lado, se nesta altura do campeonato ainda
houvesse desconhecimento do adversário directo, algo estaria errado na estrutura
portista.
Previsivelmente, o Porto foi a equipa com mais posse
de bola, privilegiando a circulação de bola e o ataque posicional. Pressionou
mais alto que o Benfica, que jogou com o bloco médio baixo, procurando proteger
as costas da sua linha defensiva em relação às movimentações de Jackson e
simultaneamente controlar o adversário fechando os espaços na zona de criação.
Ao mesmo tempo deixava avançar o bloco portista para depois o ultrapassar, com
a posse de progressão e vertical que caracteriza o seu processo ofensivo, com
Gaitán nas costas de Lima, para fazer essa ligação juntamente com os alas.
Estrategicamente, esta opção ficou condicionada com o
recuo dos alas do Benfica para auxiliarem os seus laterais na acção defensiva,
o que limitou a saída da equipa para o ataque, deixando muitas vezes Lima
desapoiado, apesar de o Benfica a privilegiar a transição quase sempre em
apoio, através de um passe curto, garantindo a segurança da posse nesse
momento, em detrimento da transição em progressão, mais directa, suportada pelo
passe longo. Em resposta o Porto, para além da pressão do trio do meio campo à
perda da posse de bola, procurou ter sempre largura no ataque, conferida por
Varela numa das alas e pelo defesa lateral do lado oposto, procurando o desposicionamento
do adversário com a sua posse de circulação.
Dentro do previsível, do treino, as duas melhores
equipas do campeonato distinguem-se principalmente pela forma como gerem a
posse de bola. A equipa de Jesus assume a posse em progressão, com grande
objectividade, sentido de baliza, através de acelerações sucessivas. Com esta
opção, a equipa procura acima de tudo ultrapassar, superar o adversário,
impondo um ritmo de jogo elevado, dominando o jogo mas não o adversário. Esta é
a opção do Porto, com a sua posse de circulação.
No domínio da imprevisibilidade, a gestão das emoções,
nomeadamente a reacção às opções estratégicas montadas pelo adversário, como
por exemplo o lançamento de linha lateral que deu origem ao golo do Benfica e
que antes deste momento foi ensaiado em mais que uma ocasião, ou a reacção à
adversidade ou o controlo da euforia, é um aspecto tão importante como a
dimensão estratégica e táctica, embora menos controlável mas igualmente
treinável.
Neste embate, quer antes quer durante o jogo, o Porto,
escudado pelo seu hábito de vencer, foi gerindo melhor a adversidade do que o
Benfica geriu a euforia. Os azuis e brancos apesar de estarem longe do topo da
classificação nunca entregaram o primeiro lugar. Os encarnados estabeleceram como
jogo decisivo o embate na Madeira. No entanto, este jogo, apesar de importante,
não decidia nada, apenas os deixava mais perto de uma decisão favorável. O
Benfica mais que ter perdido o jogo e a liderança do campeonato, perdeu também
a oportunidade de lançar uma forte machada na cultura de vencer que a equipa do
norte possui.
A decisão do jogo não decorre da dimensão estratégica,
até porque cada equipa agarrou-se à sua identidade para gerir o jogo, embora o
Porto o tenha feito de forma mais vincada. O que aconteceu é o que faz do
Futebol o maior fenómeno sócio-cultural do mundo. E não aconteceu só no sábado
ou só em Portugal. Acontece onde há Futebol! Com uma bola mesmo redonda!
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