BOLA MESMO REDONDA

NO FUTEBOL TODAS AS VERDADES SÃO DISCUTÍVEIS...ATÉ PORQUE A BOLA NEM SEMPRE FOI MESMO REDONDA...



UMA QUESTÃO LATERAL

Depois de Emerson e Capdevilla, de Melgarejo e Luisinho, chega agora Bruno Cortez, a quinta contratação para a lateral esquerda da linha defensiva encarnada desde a saída de Fábio Coentrão.

A ideia de jogo de Jesus sob o ponto de vista ofensivo assenta na verticalidade e na objectividade do processo. Pelo que numa equipa que passa mais tempo a atacar, como o próprio já afirmou, para a posição em causa mais do que um defesa, preconiza um lateral.

Com excepção do ano pós-Coentrão, é nesse sentido que as opções de mercado têm incidido. Procura jogadores que sejam rápidos na condução de bola, fortes no 1x1 no último terço e nas combinações directas e indirectas. Quase que se pode dizer, que mais do que um lateral esquerdo, opta por um segundo médio/extremo.

A opção por laterais em detrimento de defesas, tem obviamente implicações na organização de jogo de uma equipa, face à exposição defensiva que as sucessivas subidas dos primeiros pode provocar em caso de perda da posse de bola. Uma das contra medidas mais utilizadas e também das mais fáceis de operacionalizar, consiste no estabelecimento da subida alternada dos defesas laterais, contando com o equilíbrio do trinco/médio defensivo. Mourinho simplifica ainda mais e opta por um defesa (Ivanovic) e por um defesa lateral (Ashley Cole), para cada uma das laterais, com um dos médios centro em cobertura sobre o lado esquerdo e o outro na zona central do meio campo.  

No Porto estão os dois melhores defesas laterais do campeonato! Quando chegaram, tal como é natural nos jogadores oriundos do campeonato brasileiro, vinham mais como laterais do que como defesas. No entanto, o jogo interior do meio campo portista nunca os deixou desamparados. Hoje desempenham ambas as funções com qualidade, embora a de lateral confira maior visibilidade, sendo de assinalar a evolução de Alex Sandro enquanto defesa.

A opção de jogo de Paulo Fonseca sob o ponto de vista estrutural, contempla uma dupla de médios centro lado a lado em detrimento da opção por um único jogador (Fernando). Com esta opção, procurará o técnico portista conferir maior protagonismo ofensivo aos seus defesas laterais, assumindo-se os médios centro como elementos de cobertura e de equilíbrio da equipa?

No caso do Benfica, coloca-se a questão sobre o que será mais produtivo, eficiente. Promover o desenvolvimento defensivo de Bruno Cortez? Ou criar na organização de jogo da equipa princípios equilibradores e simultaneamente potenciadores da acção do ex-São Paulo, para além dos conferidos por Matić?

Aguardemos então pelo culminar da pré-temporada e pelos indícios que esta nos for dando.

O ERRO CONCEPTUAL

Há algumas semanas atrás estabeleceu-se a polémica na Fórmula 1, nomeadamente após o Grande Prémio da Grã-Bretanha, em virtude dos sucessivos rebentamentos de pneus, com os pilotos a reclamarem falta de segurança e a exigirem a intervenção da marca fornecedora.

Apesar de não serem usados no futebol, neste também existem situações cuja consequência é semelhante ao rebentamento de um pneu, que em último caso pode levar ao despiste do carro, da equipa.

É comum dizer-se que o guarda-redes, o defesa central, médio e avançado, são elementos em torno dos quais se constrói a equipa. Tantos como os pneus de um carro!

É também do senso comum, que a função primária de um defesa é defender, pelo que deve possuir características tais como: bom sentido posicional, ser forte nos duelos defensivos, agilidade no corte, capacidade de jogo aéreo, leitura de jogo para a intercepção, velocidade de deslocamento para recuperar defensivamente, quando ultrapassado.


É também previsível que determinadas combinações sejam pura e simplesmente impraticáveis. Se o modelo de jogo preconizar uma defesa subida, será difícil para um defesa com reduzida velocidade de deslocamento ter sucesso, ser eficaz na sua acção quando a bola lhe for metida nas costas, por muito bom que seja o seu posicionamento ou a sua intervenção defensiva no 1x1.

Esta praticabilidade da equação agudiza-se ainda mais, se considerarmos que a concepção de jogo estabelecida exige a participação do defesa na construção do processo ofensivo e este revela dificuldades na relação com a bola.

A forma como os objetivos defensivos são concretizados variam com o modelo de jogo definido pelo treinador e dependem das características do jogador, do que ele tem para oferecer. Pelo que não basta ter um pneu, leia-se jogador com características para a posição, é preciso selecionar um pneu adequado às condições do terreno (molhado, seco, duro, macio), ou seja, à concepção de jogo. Caso as condições financeiras não permitam a aquisição do jogador, torna-se óbvio que é necessário escolher o tipo de piso, concepção de jogo mais adequada às circunstâncias. 

Apesar de ser óbvia, a combinação do pneu/tipo de traçado, jogador/concepção de jogo, nem sempre é fácil! Mas quando tal não se verifica, mais cedo ou mais tarde, ocorre o inevitável, ou se quisermos, o óbvio! O pneu rebenta e o carro despista-se! Tal como os pneus, bolas mesmo redondas são aconselháveis....

PRESENTE E FUTURO

A semana futebolística é dominada pelas selecções nacionais: AA's, Sub-21, Sub-20 e Sub-19. Joga-se o presente e o futuro da selecção e do futebol português!

O renascimento das equipas B veio permitir o aparecimento de uma janela de oportunidade, de um espaço competitivo para os jovens que terminaram o seu percurso nos escalões de formação possam concluir esse processo já no escalão sénior ou, em alguns casos, possibilitar o acesso de alguns jovens a um patamar competitivo mais exigente do que se verifica no seu escalão etário.

Este enquadramento, teve no seu primeiro ano o grande mérito de ter possibilitado o surgimento de um número de jovens valores como há muito não se via. Confirma-se assim na prática aquilo que se já sabia: há matéria-prima! Falta saber o que tem sido feito para potenciar essa matéria.

Da classe de 92/94, fica uma amostra da matéria-prima, sem contar com os emigrados:



Há um ano atrás aquando da participação no Europeu de Sub-19 as diferenças entre os nossos jovens e das outras selecções semi-finalistas eram abismais. Fica para já o mérito de se ter possibilitado o acesso a uma experiência competitiva significativa a um conjunto de jovens.

Em Outubro de 2012, o prof. Silveira Ramos assumiu o cargo de Director Técnico Nacional. Na altura, segundo notícia da TSF, referiu: “É com grande honra, prazer e sentido de responsabilidade que aceitei o convite para exercer uma função tão relevantes para toda a actividade do futebol no seio da Federação. A FPF tem um caminho longo percorrido. É uma organização de excelência mundial e não é uma pessoa que vai fazer uma diferença substancial. O mais importante será conseguir alargar as boas práticas que há em muitas áreas do futebol em Portugal e tentar alguma inovação e melhoramentos em áreas em que se verifica essa necessidade.” (nota do editor - o erro na declaração transcrita já vem da origem, mas quem somos nós para corrigir esta prestigiada instituição)

De acordo com os estatutos da Federação Portuguesa de Futebol, compete ao DTN apresentar propostas sobre a formação dos agentes desportivos, futebol para todos, selecções nacionais, desenvolvimento dos jogadores e reestruturação dos quadros competitivos nacionais.

No site da Federação não existem quaisquer vestígios documentais ou de outra natureza relacionados com essa intervenção! Não seria interessante a divulgação dessas propostas por parte do organismo federativo, mesmo que apenas de forma superficial? Seria só mesmo mostrar a bola! Não precisava de ser a redonda...

IRREPETÍVEL?

Em Abril de 2012 o Vitória de Guimarães estava em agonia. Pouco mais de um ano depois está em euforia, com a conquista da sua primeira Taça de Portugal, num ano em que se previam grandes dificuldades desportivas e financeiras, mas onde só as últimas se fizeram sentir.

A época desportiva do Vitória de Guimarães é sem dúvida alguma um dos case study da época. Na cerimónia que decorreu na Câmara Municipal da cidade, o presidente do clube enalteceu o espírito de grupo, não só dos jogadores, da equipa técnica, directiva, mas também dos funcionários, salientando a capacidade de resiliência do "Grupo" e a importância dos indivíduos terem relegado para segundo os seus interesses pessoais em prol dos colectivos.

Ao longo da época, o treinador Rui Vitória centrou o seu discurso no espírito de equipa e na importância da equipa manter-se fiel à sua identidade, principalmente na hora das dificuldades. Após a conquista da final do Jamor, salientou a irreverencia da equipa, própria da juventude, como outro dos seus pontos fortes.

Face ao sucesso desportivo e às necessidades financeiras do clube, a delapidação dos recursos humanos já começou: Soudani (Dinamo Zagreb), Ricardo e Tiago Rodrigues (F.C.Porto). Certamente que outros se seguirão e até eventualmente o treinador, pelo que se coloca a questão: será repetível esta época desportiva na próxima temporada?

No onze que iniciou a final do Jamor, entraram 4 jogadores que início da época faziam parte das opções da equipa B (Paulo Oliveira, Kanú, Tiago Rodrigues e Ricardo) e um (André André) que na época transacta estava na II divisão B. Pode a equipa B, a formação e a prospecção garantir a reposição dos recursos humanos?

As linhas condutoras do processo, estão identificadas: O grupo acima do individual; Resistência à adversidade; Lealdade a uma identidade de jogo; Aposta nos jovens.


Depois da conquista da Taça de Portugal e para garantir um segundo ano rumo ao futuro, o Vitória precisa de conquistar o óbvio! Ou seja, manter os valores humanos que nortearam a época desportiva e assegurar recursos humanos com valor. Na cerimónia realizada na Câmara Municipal, falou-se no projecto 2022, ano de centenário do clube. Para acompanhar nos próximos 10 anos e para confirmar se a bola que vão utilizar é mesmo redonda.

CONTINUIDADE

Com o aproximar do fim da época, a palavra continuidade é das mais proferidas, seja em relação a jogadores, a treinadores ou às políticas desportivas. Ao analisarmos os clubes com maior sucesso desportivo, facilmente constatamos que a presença do elemento continuidade, é algo em comum.

O Paços de Ferreira, tem assegurado o seu desenvolvimento com base na continuidade de uma política desportiva no âmbito do recrutamento de jogadores e de treinadores (Rui Vitória, Paulo Fonseca) que elevaram a qualidade de jogo para além do esforço e da entrega que caracterizou o clube, nomeadamente durante a vigência de José Mota. Na próxima época será difícil garantir a continuidade dos resultados desportivos alcançados, do treinador e de alguns jogadores. Mas certamente, que será dada continuidade à politica desportiva, reiniciando-se outro ciclo.

O Estoril é outro dos casos de sucesso desta época, onde a presença da continuidade se faz sentir. Numa análise meramente cartesiana, a afirmação anterior é facilmente comprovada se tivermos em linha de conta que no onze base da equipa apenas Luís Leal, Carlitos e Evandro não faziam parte da equipa na época anterior, mas só o último estava no clube pela primeira vez. O treinador também era o mesmo e a ideia de jogo teve continuidade ao longo da época e foi evoluindo, com adaptações estratégicas que nunca descaracterizaram a identidade da equipa. Fica a curiosidade sobre o que poderá fazer o clube da linha na próxima época. Tal como o Belenenses, que segue um trajecto algo semelhante, dentro e fora do campo.

No Benfica, apela-se à continuidade de Jesus, face à época realizada, considerando-se que essa condição é um dos factores que conduzirá o clube ao patamar seguinte: vencer competições em vez de as disputar até ao fim.

Por outro lado, no campeão nacional, e que continua a dominar a conquista de troféus nacionais e a ser presença regular nas últimas fases de competições europeias, há duas épocas atrás aquando da saída de Vilas Boas e a entrada de Vítor Pereira falou-se em continuidade e na sua importância para a evolução de jogo da equipa. Lançou-se o debate táctico, sobre a evolução de Fernando de médio equilibrador/recuperador, adquirindo também a capacidade de construir, bem como a migração de James da faixa para a posição 10, assumindo o 1-4-3-3 uma maior flexibilidade.                  

Desta vez, não se prevê a continuidade do seu treinador e muito provavelmente de alguns jogadores-chave. No entanto, a cultura de vitória e de jogo estão de tal forma embutidas nos alicerces do clube, que assumem uma dimensão que inibe o surgimento da descontinuidade. Neste cenário, provavelmente iniciar-se-à um novo ciclo. Mas na continuidade dos anteriores.A continuidade é um elemento fundamental para que haja evolução, embora por si não seja um garante para que tal se verifique. Mau na continuidade é ausência de evolução porque conduz à estagnação, ou pior ainda à continuidade do erro, sendo o Sporting o melhor exemplo nesta matéria. 

Aguardemos então pelo desenrolar dos próximos capítulos e da bola...mesmo redonda.

IRRACIONALIDADE EMOCIONAL

A previsibilidade é um elemento, factor presente no futebol, mas é a imprevisibilidade que o torna especial! E quando esta surge no seu expoente máximo, as emoções de quem acompanha o jogo também atingem esse patamar.

Na dimensão previsível, racional, o técnico do F.C. Porto, afirmou saber como o Benfica ia jogar, procurando interferir na dimensão emocional do adversário. Mas esta afirmação pode também ser vista como um elogio, reconhecendo a existência de identidade no adversário, manifestada por um padrão de jogo, conferida pela qualidade do treino. O que, diga-se, foi reconhecido no fim do jogo. Por outro lado, se nesta altura do campeonato ainda houvesse desconhecimento do adversário directo, algo estaria errado na estrutura portista.

Previsivelmente, o Porto foi a equipa com mais posse de bola, privilegiando a circulação de bola e o ataque posicional. Pressionou mais alto que o Benfica, que jogou com o bloco médio baixo, procurando proteger as costas da sua linha defensiva em relação às movimentações de Jackson e simultaneamente controlar o adversário fechando os espaços na zona de criação. Ao mesmo tempo deixava avançar o bloco portista para depois o ultrapassar, com a posse de progressão e vertical que caracteriza o seu processo ofensivo, com Gaitán nas costas de Lima, para fazer essa ligação juntamente com os alas.

Estrategicamente, esta opção ficou condicionada com o recuo dos alas do Benfica para auxiliarem os seus laterais na acção defensiva, o que limitou a saída da equipa para o ataque, deixando muitas vezes Lima desapoiado, apesar de o Benfica a privilegiar a transição quase sempre em apoio, através de um passe curto, garantindo a segurança da posse nesse momento, em detrimento da transição em progressão, mais directa, suportada pelo passe longo. Em resposta o Porto, para além da pressão do trio do meio campo à perda da posse de bola, procurou ter sempre largura no ataque, conferida por Varela numa das alas e pelo defesa lateral do lado oposto, procurando o desposicionamento do adversário com a sua posse de circulação.

Dentro do previsível, do treino, as duas melhores equipas do campeonato distinguem-se principalmente pela forma como gerem a posse de bola. A equipa de Jesus assume a posse em progressão, com grande objectividade, sentido de baliza, através de acelerações sucessivas. Com esta opção, a equipa procura acima de tudo ultrapassar, superar o adversário, impondo um ritmo de jogo elevado, dominando o jogo mas não o adversário. Esta é a opção do Porto, com a sua posse de circulação.

No domínio da imprevisibilidade, a gestão das emoções, nomeadamente a reacção às opções estratégicas montadas pelo adversário, como por exemplo o lançamento de linha lateral que deu origem ao golo do Benfica e que antes deste momento foi ensaiado em mais que uma ocasião, ou a reacção à adversidade ou o controlo da euforia, é um aspecto tão importante como a dimensão estratégica e táctica, embora menos controlável mas igualmente treinável.

Neste embate, quer antes quer durante o jogo, o Porto, escudado pelo seu hábito de vencer, foi gerindo melhor a adversidade do que o Benfica geriu a euforia. Os azuis e brancos apesar de estarem longe do topo da classificação nunca entregaram o primeiro lugar. Os encarnados estabeleceram como jogo decisivo o embate na Madeira. No entanto, este jogo, apesar de importante, não decidia nada, apenas os deixava mais perto de uma decisão favorável. O Benfica mais que ter perdido o jogo e a liderança do campeonato, perdeu também a oportunidade de lançar uma forte machada na cultura de vencer que a equipa do norte possui.


A decisão do jogo não decorre da dimensão estratégica, até porque cada equipa agarrou-se à sua identidade para gerir o jogo, embora o Porto o tenha feito de forma mais vincada. O que aconteceu é o que faz do Futebol o maior fenómeno sócio-cultural do mundo. E não aconteceu só no sábado ou só em Portugal. Acontece onde há Futebol! Com uma bola mesmo redonda!

ANTE ESTREIA.

No próximo sábado, pelas 17.30 horas poderemos assistir à antestreia da final da Champions deste ano.

Estruturalmente, as duas equipas, optam por uma disposição semelhante 1-4-2-3-1.





Sob o ponto de vista funcional, também são facilmente identificáveis semelhanças em algumas dinâmicas de jogo. Ambas optam por uma dupla de médios centro, em que um deles fica mais fixo, embora sem ficar preso ao lugar (Javi Martinez vs Bender). O outro solta-se mais no apoio ao ataque (Schweinsteiger vs Gündogan). Os defesas laterais são capazes de fechar o seu corredor e de atacar, fazendo-o com critério (Lahm/Alba vs Piszczek/Schmelzer), contando com o apoio dos médios laterais no processo defensivo, aspecto onde se deve realçar a evolução de Ribéry.

Na segunda linha do meio-campo, a dinâmica também é semelhante. Müller, na ausência de Kroos, e Götze ocupam o corredor central unindo a zona de construção com a de finalização. Em resposta aos  movimentos interiores dos alas, promovem trocas posicionais com estes ou em apoio na subida à linha do lateral visando o cruzamento, numa dinâmica que nesta zona assenta quase sempre no passe vertical a pedir uma desmarcação em diagonal ou vice-versa. Defensivamente, procuram fechar os espaços, procurando manter o posicionamento da equipa preparando a transição defesa-ataque, quer em condução, quase sempre pelas alas quer através de passes verticais e em profundidade.

Ao nível do momento defensivo, o Bayern destaca-se do Dortmund, evidenciado maior capacidade de pressão sobre os espaços e sobre a bola em todas a zonas do campo, o que poderá uma arma ser favorável aos bávaros, nomeadamente por via da recuperação da posse de bola em zonas mais próximas da baliza adversária.

Outro dos aspectos a destacar prende-se com a qualidade da posse de bola. Ambas as equipas evidenciam uma elevada precisão e velocidade de execução das acções técnicas base (passe, recepção, remate), jogando a 2 ou 3 toques, desenvolvendo um futebol vertical e de grande objectividade, onde a organização deixa pouco espaço para a criatividade e nenhum para o improviso. Desta condição deriva outros dos aspetos que pode desequilibrar a balança para um dos lados, nomeadamente a transição ataque-defesa. Se ao nível da qualidade na perda, as equipas equivalem-se, na reacção à perda o Bayern mostra-se mais eficaz, uma vez que o Dortmund mais do que manter as posições e pressionar, procura recuar e organizar o posicionamento defensivo.

Sábado fica a primeira amostra. A prova real só no dia 25 de maio. Quando a bola rolar, mesmo redonda. 

NO MEIO DA CRISE, AGUÇA-SE O ENGENHO....



Numa altura de austeridade, os jogadores ( Meyong e João Tomás) que se destacam nos clubes do meio tabela, saem para campeonatos menos expressivos sob o ponto de vista da qualidade de jogo,  mas mais poderosos sob o ponto de vista financeiro.

No meio da crise, aguça-se o engenho e face às necessidades aposta-se nos jovens. O Vitória de Guimarães, talvez mais por imposição das circunstâncias do que por opção, é dos clubes que mais oportunidades tem conferidos aos seus jovens, sem contar com o espaço competitivo proporcionado pelas equipas B, o que tem permitido o surgimento de vários jovens nas ligas profissionais, ao longo da presente temporada.

Pelo que a crise financeira, pode ser uma janela de oportunidade para os jovens futebolistas nacionais, embora seja de referir que apostar nos jovens jogadores, não é sinónimo de aposta na formação, embora seja uma das condições para que tal se verifique.

Ficam alguns dos jovens que têm procurado jogar com a bola redonda, na primeira metade época e outros que poderão vir a fazê-lo com maior frequência na segunda metade ....  

   

12º JOGADOR


Todos os anos, desde a temporada 82/83,  a NBA atribui o prémio Sexto Homem, reconhecendo o jogador mais valioso da Liga, entre aqueles que saíram mais vezes do banco, comparativamente ao número de jogos em que foram titulares.

No caso do futebol, essa valorização encontra-se associada ao conceito de "arma secreta". Isto é, o jogador que sai do banco e que resolve, por norma com golos, os problemas  que mais ninguém foi capaz. 

César Brito, que na época de 90/91, entrou nas Antas para marcar dois golos decisivos para a conquista desse campeonato, tem nesse momento o cartão de apresentação da sua carreira. Juary, no Porto de Artur Jorge, na final da Taça dos Campeões Europeu contra o Bayern, vindo do banco, como tantas outras vezes, marcou o golo decisivo.  



Mantorras, no Benfica de Trapatonni, no pouco tempo que jogava face às suas limitações físicas, mais do que os golos que marcava, a sua entrada provocava uma onde de entusiasmo na bancada e na equipa, contribuindo para inversão do sentido do jogo. Também no Benfica, no final da década de oitenta, Vata, foi dos que se enquadram nesta categoria. 

No atual campeonato não existe nenhum jogador que vindo do banco, se destaque pela sua capacidade de resolver jogos vindo do banco.Mas existe um que pelo seu contributo à equipa, pode ser claramente considerado o 12º jogador: Deffour. 

O médio Belga, foi titular 6 vezes, tendo sido sempre substituído e foi suplente utilizado outras tantas vezes. No entanto, é o 11º da equipa em tempo de jogo, com  647 minutos. Participou em 12 dos 13 jogos da equipa, tal como Lucho, um dos pilares da equipa. Foi opção do treinador face aos impedimentos de Fernando, Lucho e ao dde James, agora no jogo da Luz.

Deffour, não tem a capacidade de equilíbrio defensivo de Fernando, nem a imponência de Lucho ou a capacidade criativa de James. Mas tem qualidade suficiente para entrar e oferecer mais-valias à equipa. Na posição 6, o que não em segurança, equilíbrio defensivo, compensa com segurança ofensiva pela sua qualidade de passe. Não sendo imponente no jogo, permite a Moutinho assuma na totalidade na ausência de Lucho. Não sendo um criativo no último terço, oferece consistência à equipa, através da gestão da posse de bola e pela pressão no momento da perda nessa zona do terreno.

Não sendo um fora de série, destaca-se pela sua cultura de jogo, que lhe permite interpretar, desempenhar diferentes posições/funções não só no dispositivo tático da equipa, como nos diferentes momentos do jogo em cada uma dessas posições, o que faz dele uma peça importante, para que a equipa possa ter uma bola mais redonda para jogar.... 

DIREÇÃO? SÓ COM SENTIDO !!!

No nosso dia-a-dia é comum atribuir o mesmo significado ás palavras direção e sentido. No âmbito da Física estas duas palavras expressam significados diferentes. Direção ( vertical, horizontal, circular) e Sentido (direita, esquerda, cima, baixo), horário, anti horário)

A entrada de Jesualdo Ferreira no Sporting, enquadra-se neste raciocínio. Foi estabelecida uma direção, leia-se intuito, mas desprovida de sentido, leia-se incongruente, dado que Godinho Lopes, apresentou-o como manager de todo o futebol do clube, caracterizando-o como treinador do dos treinadores....e desde ontem é também treinador da equipa A.....   

O professor Vítor Maçãs, na sua tese de Doutoramento: “O Diretor Desportivo nas Organizações do Futebol em Portugal: Caracterização da atividade dos gestores de desporto nos clubes de futebol profissional e não profissional”, debruça-se sobre esta matéria, alertando para as diferentes designações existentes para um mesmo cargo, que vão de Diretor Desportivo ao Diretor Geral ou Executivo, passando pelo Diretor Técnico ... e para a diversidade de funções associadas, em que as responsabilidades e competências, por vezes não estão delimitadas no universo de intervenção.


A figura de manager tem uma conotação claramente anglo-saxónica, sendo Sir Alex Fergunsson, a melhor personificação do conceito. Com base num orçamento, estabelecido pelo Direção Financeira, compra e vende jogadores e ao mesmo tempo treina a equipa. No que diz respeito à equipa, tudo depende dele. Definição estratégica e operacionalização.    



O Diretor Desportivo aproxima-se do manager no âmbito da intervenção estratégica, nomeadamente no recrutamento e dispensa de jogadores, tendo em consideração politica económica estabelecida pela  Direção Financeira,  mas sem qualquer contato no que diz respeito à operacionalização do treino. É um ativo com uma forte preponderância estratégica no âmbito da gestão da política desportiva do clube, com competências em vários domínios, tais como:
     -» Definição da estratégia de operacionalizada da política desportiva estabelecida;
    -» Determina  as relações com as diversas organizações e agentes intervenientes no universo futebolístico;  
     -» Participa na elaboração do plano de ação técnico (Modelos de jogo, de treino, de treinadores,  de análise do jogo e de jogadores da equipa e dos adversários);
     -» Recrutamento dos recursos humanos;  

De forma genérica, as suas funções fundamentais  passam pelo cumprimento de quatro grandes operações: Planeamento, Organização, Direção e Controlo da política desportiva do clube. 


O treinador dos treinadores, normalmente denominado Diretor ou Coordenador Técnico, é um elemento da organização do clube situado mais próximo da operacionalização do que da definição estratégica, tal como acontece com o Diretor Desportivo, intervindo, por norma, no âmbito das equipas de formação, podendo também assumir a função de consultor técnico do Diretor Desportivo no âmbito da equipa A e/ou no Scouting.



Em qualquer circunstância, o Diretor Técnico é um especialista, que pela sua competência, conhecimento, experiência, prática e referências curriculares, tem uma autoridade reconhecida no domínio técnico-pedagógico, cujo desempenho profissional, por norma, é ocupado por pessoas com formação técnica na modalidade. 

Daqui se influi, que tal como na Física, definir a Direção, entenda-se cargo, não é suficiente. Há que definir também o sentido, isto é, as competências da Direção. Só desta forma a intervenção pode ser significativa, mesmo que não se atinja o sucesso desejado. Não chega ter uma bola, é preciso que pelo menos ela seja redonda.....